E isso pode? Mesmo não sendo investigado e indiciado, jornalista Glenn sofre denúnica pelo MPF.
Que surpresa, jornalista denunciado sem nem ser investigado - imagem da internet. |
Quem diria, o Ministério Público Federal, em
Brasília, denunciou hoje (21), o jornalista Glenn Greenwald, fundador do site
The Intercept Brasil, responsável pela divulgação dos diálogos da lava-jato, em
parceria com outros veículos de comunicação. Na ocasião, os diálogos
demonstraram a proximidade de Moro com os procuradores da força tarefa, o que
deixou em cheque a imparcialidade do juiz, agora ministro da Justiça do governo
Bolsonaro.
Mesmo não sendo investigado e nem indiciado pela
polícia federal, e tendo preservado seu direito de sigilo da fonte, Glenn
Greenwald entrou no escopo do procurador Wellington Oliveira, o mesmo que
acusou Felipe Santa Cruz, presidente da Ordem dos Advogados (OAB), por calúnia
contra Moro.
Quanto ao caso do procurador contra Santa Cruz, a
justiça rejeitou o a denúncia na semana passada.
Fora Glenn, outras seis pessoas foram denunciadas
por envolvimento no hackeamento de autoridades, sendo parte do conteúdo vazado
pelo The Intercept Brasil em parceria com outros veículos.
Segundo o
procurador Wellington Oliveira, num áudio encontrado em computador apreendido,
Greenwald teria orientado o grupo de hackers a apagar mensagens. É "clara
conduta de participação auxiliar no delito, buscando subverter a ideia de
proteção a fonte jornalística em uma imunidade para orientação de criminosos”,
afirmou o procurador.
Agora a Justiça irá avaliar se há justificativa na
denúncia, decidindo se aceita ou não a acusação do Ministério Público Federal.
Leia agora um trecho da transcrição que seria uma
conversa entre Glenn e Luiz Molição, suposto porta-voz do grupo de hackers.
Glenn: “Isso é
nossa obrigação. Então, nós não podemos fazer nada que pode criar um risco que
eles [os investigadores] podem descobrir 'o identidade' de nossa fonte. Então,
para gente, nós vamos... como eu disse não podemos apagar todas as conversas
porque precisamos manter, mas vamos ter uma cópia num lugar muito seguro... se
precisarmos. Pra vocês, nós já salvamos todos [os arquivos], nós já recebemos
todos. Eu acho que não tem nenhum propósito, nenhum motivo para vocês manter
nada, entendeu?”,
De acordo
com Oliveira, Glenn teria agido “de forma livre, consciente e voluntária,
auxiliou, incentivou e orientou, de maneira direta, o grupo criminoso, durante
a prática delitiva, agindo como garantidor do grupo, obtendo vantagem
financeira com a conduta aqui descrita [ao divulgar as conversas em seu
site]". E disse mais, “diversos são os meios disponíveis para que um
'jornalista' exerça sua função e a Constituição da República Federativa do
Brasil, de 1988, garante especial proteção ao sigilo da fonte”.
Leia a
interpretação de Wellington Oliveira na deúncia: “Diferente
é a situação em que o 'jornalista' recebe material ilícito enquanto a situação
delituosa ocorre e, tendo ciência de que a conduta criminosa ainda persiste,
mantém contato com os agentes infratores e ainda garante que os criminosos
serão por ele protegidos, indicando ações para dificultar as investigações e
reduzir a possibilidade de responsabilização penal”.
Quanto ao
sigilo da fonte: a Constituição Brasileira, em seu artigo quinto
trata: "é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo
da fonte, quando necessário ao exercício profissional".
O que diz
a defesa do jornalista: "Trata-se de um expediente tosco que visa
desrespeitar a autoridade da medida cautelar concedida na Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 601, do Supremo Tribunal
Federal, para além de ferir a liberdade de imprensa e servir como instrumento
de disputa política". E mais: "Seu
objetivo é depreciar o trabalho jornalístico de divulgação de mensagens
realizado pela equipe do The Intercept Brasil em parceria com outros veículos
da mídia nacional e estrangeira. Os advogados de Glenn Greenwald preparam a
medida judicial cabível e pedirão que a Associação Brasileira de Imprensa, por
sua importância e representatividade, cerre fileiras em defesa do jornalista
agredido".
Nota de
Glenn Greenwald enviada a jornalista Mônica Bergamo (Folha)
"Não seremos intimidados por essas tentativas
tirânicas de silenciar jornalistas. Estou trabalhando agora com novos
relatórios e continuarei a fazer meu trabalho jornalístico. Muitos
brasileiros corajosos sacrificaram sua liberdade e até sua vida pela democracia
brasileira, e sinto a obrigação de continuar esse nobre trabalho.
O governo Bolsonaro e o movimento que o apoia
deixaram repetidamente claro que não acreditam em liberdades de imprensa — as
ameaças de Bolsonaro à Folha, os ataques aos jornalistas incitando
violência, as insinuações de Sergio Moro desde o início das nossas reportagens
para nos classificar como 'aliados dos hackers' por revelar sua corrupção
em vez de 'jornalistas'.
Há menos de dois meses, a Polícia Federal,
examinando todas as mesmas evidências citadas pelo Ministério Público, declarou
explicitamente que não apenas nunca cometi nenhum crime, mas também exerci
extrema cautela como jornalista, nem cheguei de qualquer participação. Até a
Polícia Federal, sob o comando do ministro Moro, disse o que está claro para
qualquer pessoa: eu não fiz nada além do meu trabalho como jornalista
—eticamente e dentro da lei.
Essa denúncia —levada pelo mesmo procurador que
tentou (mas fracassou) processar criminalmente Felipe Santa Cruz por criticar
ministro Moro
— é uma tentativa óbvia de atacar a imprensa livre em retaliação pelas
revelações que relatamos sobre o ministro Moro e o governo Bolsonaro. É também
um ataque direito ao STF, que determinou que temos o direito de ter nossa
liberdade de imprensa protegida em resposta a outros ataques do ministro Moro,
e até mesmo às conclusões da Polícia Federal.
Não seremos intimidados por essas tentativas tirânicas
de silenciar jornalistas. Estou trabalhando agora com novos relatórios e
continuarei a fazer meu trabalho jornalístico. Muitos brasileiros corajosos
sacrificaram sua liberdade e até a sua vida pela democracia brasileira, e sinto
a obrigação de continuar esse nobre trabalho."
O Ministério Público
Federal em Brasília denunciou nesta terça-feira (21) sete pessoas sob
acusação de envolvimento no hackeamento de contas de Telegram de
autoridades como o ministro da Justiça, Sergio Moro, e o procurador
Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato em Curitiba.
Entre os denunciados está o jornalista Glenn Greenwald, fundador do site
The Intercept Brasil, que recebeu os diálogos da Lava Jato e os
publicou por meio de uma série de reportagens, algumas delas em parceria
com outros veículos, como a Folha.
Glenn não foi investigado nem indiciado pela Polícia Federal, mas o
procurador Wellington Oliveira entendeu que ficou demonstrado, em um
áudio encontrado em um... - Veja mais em
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